" Falar de Vénus é falar do Amor, é falar da Vida. É falar da aprendizagem do amor, na Vida.
Sempre muito se diz sobre o amor. Amor como algo desejado, plenitude, felicidade maior, infelicidade : amor como dor, drama a ser vivido...
No entanto, poucos sabem do amor. Do amor como frequência mais " alta ", como vibração unitária do mundo, a " Nota chave " do Universo.
Não se nasce a saber amar. Todos necessitamos de actualizar a sua aprendizagem. É a nossa Humana condição.
Amar é um alto nível de consciência atingido, através de um lento e doloroso processo de ascenção...
Não se pode falar de Vénus sem Marte, Marte identifica-se com o desejo. Numa primeira fase, Marte é irracional, enquanto desejo instintivo e onde há desejo, há sempre uma insatisfação que o origina. Pode dizer-se que Marte é " filho das Trevas ".
Vénus é o dia que Marte encontra, se encontra. Vénus é a primeira luz, nas Trevas do nosso Ser interno, a primeira emoção da unidade.
O desejo sempre anima o Amor-a-dois. Vénus não pode dissociar-se da força obsessiva e obscura que Marte activa. Vénus é o acréscimo de Vida que Marte deseja. É o que " falta " a Marte, e lhe estimula a afirmação.
As personalidades, numa etapa menos evoluída, sempre teimam em confundir Amor com desejo. Chamam Amor a todas as formas de projecção psíquica, por carência ou insatisfação. Confunde a abundância de Vida que é o Amor, com o grande vazio interior.
Cumprir o nosso projecto sobre a Terra é viver este " drama emocional ", aceitar a violência das suas contradições, até sermos capazes de encontrar uma nova e regenerada condição.
Vénus-Marte para isso nos encaminham. Temos de viver o que a Vida nos traz como experiência, o que atraímos por ressonância. Tudo o que nos pertence como experiência, há que ser plenamente vivenciado. Ilusões e desilusões, Uniões e desuniões, lágrimas e momentos de plenitude.
Para que além de todas as tristezas e alegrias, projecções, entusiasmos, expectativas e sofrimentos através dos quais o Tempo nos conduz, possamos progressivamente um dia encontrar o que não ilude nem desilude.
A dimensão inteligente de Vénus vai-se tornando progressivamente mais inteligente. Ou seja, vai-se " emancipando " da carga irracional do desejo instintivo. Vai " subindo " em subtileza e Liberdade.
O que infelizmente se verifica nos Tempos de hoje é que a maioria das pessoas vive Marte sem Vénus, o desejo sem Amor.
As pessoas elegem porque desejam não porque valorizam. Chamam isso de " Amor ".
Muitas vezes existe a necessidade de possuir e controlar o outro, de quem esperamos o " mais " que a Vida nos oferece. O outro, nas mãos de quem depomos a nossa Liberdade e o nosso Poder, esse outro, que ilusoriamente identificamos com segurança e felicidade.
Obviamente, isso é um grande equívoco. Equívoco que se paga a alto preço, o preço a que vulgarmente se chama dor-de-amor !
Ninguém pode preencher, a não ser provisória e aparentemente, o nosso " vazio interior ". Não temos como manter a segurança nos relacionamentos. Ninguém " segura " nada, porque não tem por onde segurar...
Quando duas pessoas se separam, deviam saber não " dramatizar ". A separação consiste apenas em " criar espaço ". " Espaço de respiração " que permita a cada um viver outras experiências, adquirir mais Liberdade e autonomia para melhor se conhecer e encontrar. Nestes casos, ao contrário do que é comum, deveria haver grande respeito e mútuo agradecimento por esta oportunidade de Vida nova.
Não é dizer : " Ah, eu enganei-me naquela relação. " Eu não me enganei em relação nenhuma, vivi exactamente a relação que tinha de viver. Justo aquela relação e não outra qualquer.
Todas as relações de amor a dois tendem para a Liberdade. Para a Liberdade partilhada, a Liberdade-em-comum.
Liberdade onde já não há dependência recíproca, onde já não há " medo de perder " ninguém, onde já não há necessidade de " manipular psiquicamente " o outro, para que ele me dê a segurança emocional que preciso, e que me acho no " direito de exigir " que ele me dê...onde há medo não há amor.
A ideia de que resolvo o meu " vazio existencial " através de alguém que julgo amar é uma ilusão. Ainda por cima violentando esse alguém. Agredindo-o, fazendo-lhe o que vulgarmente se chama " cenas ". Obrigando-o a ser o que não é, para que eu possa ser o que não sou.
Entender este equívoco, tão comum nas relações ditas amorosas, é perceber como devemos enfrentar os nossos medos. Para que os relacionamentos já não nasçam do medo, da Solidão. Só assim eles podem ser perenes e traduzir o bem-estar da verdadeira comunicação.
Tenho primeiro que me absolver, que " limpar " algum sentimento de culpa que trago do Passado. Até me aceitar incondicionalmente. Até voltar a ser receptiva e vulnerável. Só assim o Amor é possível.
No momento em que for capaz de dar, dar fisicamente, emocionalmente ou espiritualmente aos outros, no momento em que for capaz de acrescentar " mais Vida " a alguém, nesse momento, não estou mais só, nunca mais.
Neste sentido, o Amor é o encontro do Ser consigo, através do outro a quem ama. Se eu souber pôr-me em causa, se aceitar aprender, não irei mais cometer o mesmo equívoco, e projectar-me pelas mesmas razões. Já vou querer outra coisa, de outra maneira.
Se eu não percebi o porquê do desentendimento, então vou atrair uma outra pessoa, pelas mesmas razões que atraí na experiência anterior.
Então, repete-se o mesmo " filme ", filme que me faz viver exactamente o mesmo tipo de desencontro que forçosamente irá " acabar " exactamente da mesma maneira.
É necessário: Aprendermos a dar e receber, sem cobrar o prazer de partilhar quem somos, a dar e receber sem exigir coisa alguma. Aí, vibramos na verdadeira energia do Amor. Identificamo-nos com a qualidade de Vénus. Libertamo-nos do condicionalismo de Marte. Aprendemos uma lição-de-amor.
Maria Flávia de Monsaraz
in " Vénus - o gérmen da vida, da forma e do Amor "
Célia Casaca